Estou profundamente mexida com a indicação de Ainda Estou Aqui aos três Oscars. O simbolismo disso é de ressurreição. Por quase dois anos passei diariamente em frente à Cinemateca Brasileira de portas fechadas pelo governo Bolsonaro. Diariamente sentia o luto de ver seres de alma miserável destruírem tudo o que faz a gente se distanciar das trevas. O ódio dessa gente pelo bom e belo levou os sensíveis a um estado de enfermidade psíquica. Por essas razões da vida, em 8 de janeiro de 2022 eu estava no Rio de Janeiro, exatamente em frente de onde era a casa dos Paiva, em Ipanema. No calçadão, li sobre a invasão à Praça dos Três Poderes. Eu olhava em volta e nada tinha mudado. Ninguém se abalou, a praia continuava igual. Decidi caminhar até a padaria Rio Lisboa, no Leblon, para ver a movimentação. Ali só se falava disso. Mas eu não tinha muito o que fazer. Pensei em quanto eu era um grão de areia. Se o golpe vingasse, o que eu faria? Se os tanques fossem às ruas? Me senti ninguém ali....
Uma vez eu sonhei com um lugar chamado Goiabal, onde havia um emprego. No sonho, me avisaram: "A prefeitura de Goiabal está precisando de um jornalista para escrever sobre balas e doces". Goiabal ficava longe: tive que pegar umas três conduções para chegar lá. Quando cheguei, o emprego foi meu por um ano e pouco. A distância atrapalhou e eu acordei. Era 2005, e na vida real eu morava com meu pai e minha avó na Vila Mariana, São Paulo. Não fazia a menor ideia de onde ficava Goiabal, nem tampouco se esse lugar existia. Pesquisei, e achei duas possibilidades: São José do Goiabal, em Minas, e Goiabal, em Calçoene, cidade do Amapá. Essa última me interessou. Comecei a pesquisar freneticamente sobre o Amapá e bolei o projeto de um livro. Eita lugar interessante! Mas os anos se passaram, e nunca fui lá. Corta. Quatro anos depois, morando Cariri cearense, precisei ir até uma cidadezinha de oito mil habitantes, chamada Abaiara. Estava visitando lugares distantes, para fazer r...